Infertilidade – A importância do diagnóstico precoce

Dr. Sérgio Soares
09/11/22
Infertilidade – A importância do diagnóstico precoce

Leia o artigo de opinião do Dr. Sérgio Soares, médico ginecologista especialista em Medicina de Reprodução e diretor da Clínica IVI Lisboa, sobre a infertilidade e o impacto de um diagnóstico atempado.

Em termos genéricos, a infertilidade pode ser definida como a incapacidade de se alcançar uma gravidez após 12 meses de tentativas sem recurso a qualquer meio anticoncecional, nos casos em que a mulher tenha uma idade inferior a 35 anos. Se a mulher tiver uma idade superior, este período é reduzido para seis meses. Neste contexto, e tendo em conta que a quantidade e a qualidade dos ovócitos diminuem consideravelmente a partir dos 35 anos e que há uma idade limite para a mulher poder aceder a tratamentos de Procriação Medicamente Assistida (PMA) – 50 anos, tanto para o SNS como em clínicas privadas – é de extrema importância despistar eventuais problemas de fertilidade no casal o mais precocemente possível.

As dificuldades relacionadas com a conceção afetam cerca de 300 mil casais em Portugal, sendo que há uma tendência de crescimento, em percentagens muito semelhantes em mulheres e homens. Não nos podemos esquecer que a espécie humana não tem um elevado poder reprodutivo. Estima-se em apenas 25 % a possibilidade de a mulher engravidar na relação sexual mantida durante a ovulação. Ora, se reduzirmos a esta percentagem outros fatores relacionados com patologia ou mesmo com alguns fatores externos como é o caso do stress, alimentação pouco equilibrada ou a poluição, facilmente concluímos por que razão a infertilidade é mais comum que rara. Porém, graças à Ciência, não é um problema intransponível. Mas é importante sublinhar que quanto mais tarde se procurar uma gravidez, mais difícil será a conceção, mesmo com ajuda médica.

E quando a gravidez não acontece, por onde começar? Habitualmente, os testes para determinar a infertilidade incluem um historial clínico do casal. No caso da mulher é feita uma avaliação ginecológica, um estudo hormonal basal, uma ecografia e eventualmente pode ser solicitado um estudo imagiológico às trompas. No caso do homem, será necessário avaliar a qualidade do esperma através de um espermograma. Mas nem sempre a Medicina encontra uma explicação para a infertilidade. Em cerca de 30% dos casos, estará relacionada com causas femininas em 30% dos casos, outros 30% com causas masculinas, 20% com causas mistas e outros 20% inexplicados.

Algumas alterações no estilo de vida do casal, sob orientação médica, têm sido um apoio importante para o alcance de uma gravidez, mesmo nos casos em que há patologia. Para além da idade da mulher, fator primordial, o consumo de álcool e tabaco, o excesso de peso e obesidade, a ausência de atividade física e a alimentação pouco variada e equilibrada são fatores que prejudicam a fertilidade. Nestes casos, eliminar alguns destes fatores, como perder peso e deixar de fumar, podem ajudar a facilitar uma gravidez. Sabemos, por exemplo, que os cigarros prejudicam a função ovárica, o transporte embrionário e a recetividade do endométrio da mulher. No homem, o consumo de tabaco ou outros produtos derivados afetam a qualidade do sémen.

Ao contrário, a atividade física moderada produz benefícios cardiovasculares, metabólicos, endócrinos e neurológicos, além de melhorar a qualidade dos espermatozoides. É também um bom apoio para ajudar a gerir o stress e a ansiedade, grandes inimigos da fertilidade. Saber relaxar e não se deixar apanhar na teia de emoções que é a infertilidade é fundamental para a saúde do próprio casal e da própria relação, que deve estar ainda mais fortalecida nesta altura.

Outro aspeto que merece particular atenção é o facto de a infertilidade masculina já representar cerca de metade dos casos atendidos atualmente nas clínicas de procriação medicamente assistida. Alguns estudos realizados em diversos países indicam-nos que as substâncias químicas presentes em pesticidas e nos solventes e recipientes de plástico são especialmente tóxicas para o tecido testicular e contribuem para uma menor qualidade do sémen produzido. O uso de alguns aparelhos como telemóveis ou portáteis/tablets e a utilização frequente de saunas e banheiras aquecidas são também apontados como possíveis causas da queda da qualidade do sémen.

Assim sendo, recomenda-se uma consulta de fertilidade após um ano de tentativas para conceber no caso das mulheres com menos de 35 anos. Para as mulheres com idade superior a 35 anos, este período baixa para os seis meses. Uma vez que a produção de óvulos de qualidade começa a diminuir, é importante não adiar uma primeira consulta com um especialista. E embora exista atualmente uma multiplicidade de métodos para ultrapassar a barreira da infertilidade, não é permitido aceder a tratamentos de Procriação Medicamente Assistida (PMA) após os 49 anos e 365 dias (366 dias, no caso dos anos bissextos), seja no SNS ou em clínicas privadas.

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