A hepatite C é por alguns chamada doença silenciosa. Tal relaciona-se com o facto da maior parte dos doentes infetados não terem qualquer queixa ou sintomas atribuíveis à doença, ao longo de vários anos. Habitualmente, quando as queixas se manifestam, já a doença se encontra num estádio avançado, com um prognóstico mais reservado. Sabe-se que 30-40% dos casos não tratados ou ineficazmente tratados, evoluem gravemente para cirrose, que é uma situação clínica grave e irreversível, cujo tratamento sustentado é apenas o transplante de fígado. Acresce que nos doentes com cirrose, o aparecimento de cancro do fígado, situação de muito mau prognóstico e com elevadíssima mortalidade, ocorre em 10-40% num espaço de tempo de 10 anos. Por todas estas razões o desejável é que a doença seja tratada eficazmente numa fase tão precoce quanto possível.
Contudo, o diagnóstico atempado encerra duas limitações: por um lado o facto de, como atrás foi dito, a doença ser assintomática durante vários anos e por outro o facto de um terço dos doentes não ter fatores evidentes de risco para o contágio que sofreu, não se chegando mesmo a qualquer conclusão quanto à identificação do mesmo. Sabe-se que um historial de transfusões de sangue anteriores ao ano de 1990, consumo prévio de drogas ou contacto com sangue contaminado são fatores de risco aumentado para a transmissão, mas num número significativo de casos tal nunca existiu e a infeção é uma realidade. Por tudo isto se sugere que pelo menos uma vez na vida as pessoas façam o teste, uma vez que além do mais se trata de uma simples analise sanguínea que pode ser efetuada ao mesmo tempo de outras análises efetuadas habitualmente. A partir daí a situação real estará conhecida e a estratégia mais adequada poderá ser equacionada.
Uma das grandes evoluções da medicina contemporânea prende-se com o tratamento da hepatite C. Em 1985 os primeiros tratamentos revelaram uma eficácia de 5%. Com o evoluir dos tratamentos disponíveis, a eficácia aumentou significativamente estando hoje em valores que poderão permitir a cura em 80-90% dos casos, com curtos tratamentos de 12 semanas. Mas igualmente importante são os avanços referentes à segurança da medicação administrada e à diminuição dos efeitos colaterais da mesma, que modernamente se pode fazer apenas por via oral, sem injetáveis, com efeitos mínimos sobre a qualidade de vida de quem a está a utilizar.
Por todas estas razões, evolução, controvérsias e atual "estado da arte", se justifica a realização da Reunião Monotemática da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia no dia 31 de janeiro de 2015, em Guimarães, intitulada "Hepatite C - nova realidade, novos horizontes". A presença de reputados médicos especialistas portugueses e estrangeiros para abordarem estes temas e a discussão das melhores estratégias a adotar trarão seguramente mais-valias na atualização médica com consequente repercussão no tratamento dos doentes.
Por Dr. José Cotter, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia
Hepatite C - Nova Realidade, Novos Horizontes
Redação News Farma
15/01/15
A hepatite pelo vírus C é uma das mais importantes infeções crónicas em todo o mundo, afetando 3% da população mundial, isto é, 170-200 milhões de pessoas. É ainda a causa mais frequente de cancro do fígado e de transplante hepático nos países desenvolvidos. Em Portugal estimam-se que existam cerca de cem mil pessoas infetadas, ocorrendo como consequência da doença um número aproximado de mil mortes anuais. É pois um problema de saúde pública que merece uma estratégia concertada, atuante e eficaz.