A prevalência reportada da diabetes mellitus tipo 1 é baixa. Há poucos estudos/trabalhos feitos para avaliar tanto a prevalência como a incidência da diabetes mellitus tipo 1 em África; em Angola, os dados fornecidos pelo Centro de Processamento de Dados Epidemiológicos são escassos e não são abrangentes.
No âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário 2012-2025 (PNDS) foi preconizada a conceção de um Programa de Prevenção e Controlo das Doenças Crónicas Não Transmissíveis de que a Diabetes fará parte. Ainda não foi materializado esse objetivo.
Em contacto com diversos profissionais que lidam com doentes com diabetes mellitus tipo 1 apurou-se que:
- Existe dificuldade de diagnóstico relacionado com insuficiência de laboratório (doseamentos imunológicos).
- A cetoacidose diabética tem sido a forma mais frequente de manifestação inicial.
- Os doentes acorrem com atraso às Instituições de Saúde. Isso condiciona atraso no diagnóstico e na prestação de cuidados adequados, aumentando o risco de mortalidade.
- Há deficiente informação sobre a doença bem como da noção de doença crónica pelo doente e seus familiares. Tal tem implicação na adesão à terapêutica e utilização de meios de monitorização. Esta pode ser uma das causas das várias recorrências hospitalares em cetoacidose.
- Deve-se ter em conta o peso da medicina tradicional e das crenças populares.
- A agravar a situação está a dificuldade de acesso à insulina (preço alto, sobretudo dos análogos) e aos meios de autocontrolo.
Neste contexto é proposto pelos profissionais que:
- Seja dada uma formação e informação adequadas aos doentes e profissionais através de sessões educativas, Simpósios e Meios de Comunicação Social. Deve ser reforçada a necessidade de uma boa estruturação do Sistema de Saúde com constituição de equipas multidisciplinares nos diversos níveis de atendimento da pessoa com diabetes tipo 1.
- Criar condições objetivas para operacionalização do Programa de Prevenção e Controlo da Diabetes.
- Dentro do possível, sensibilizar as entidades governamentais para caminhar no sentido da subvenção da insulina e dos meios de autocontrolo.
Em suma, o manejo da diabetes mellitus tipo 1 em África mormente na região Sub-Sahariana é um grande desafio dadas as grandes limitações e constrangimentos (culturais e económicos) ao acesso aos meios de diagnóstico e de tratamento. Tal contribui para o aumento da morbimortalidade associada à doença e suas complicações. Este quadro é agravado pela prevalência e predisposição às várias infeções. É necessária formação dos profissionais, educação dos doentes e melhoria da organização dos Sistemas de Saúde.
Dr. Anselmo de Oliveira Castela, endocrinologista, Clínica Girassol, Luanda, Angola