Diabetes mellitus tipo 1 em Angola: dilemas

Dr. Anselmo de Oliveira Castela, endocrinologista
12/02/15
Diabetes mellitus tipo 1 em Angola: dilemasA diabetes mellitus emergiu como uma importante doença crónica não transmissível em África. A sua incidência e prevalência estão a aumentar globalmente. As estimativas da OMS e da IDF apontam para um aumento de 162% até 2030 em África.



A prevalência reportada da diabetes mellitus tipo 1 é baixa. Há poucos estudos/trabalhos feitos para avaliar tanto a prevalência como a incidência da diabetes mellitus tipo 1 em África; em Angola, os dados fornecidos pelo Centro de Processamento de Dados Epidemiológicos são escassos e não são abrangentes.

No âmbito do Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário 2012-2025 (PNDS) foi preconizada a conceção de um Programa de Prevenção e Controlo das Doenças Crónicas Não Transmissíveis de que a Diabetes fará parte. Ainda não foi materializado esse objetivo.

Em contacto com diversos profissionais que lidam com doentes com diabetes mellitus tipo 1 apurou-se que:
  1. Existe dificuldade de diagnóstico relacionado com insuficiência de laboratório (doseamentos imunológicos).
  2. A cetoacidose diabética tem sido a forma mais frequente de manifestação inicial.
  3. Os doentes acorrem com atraso às Instituições de Saúde. Isso condiciona atraso no diagnóstico e na prestação de cuidados adequados, aumentando o risco de mortalidade.
  4. Há deficiente informação sobre a doença bem como da noção de doença crónica pelo doente e seus familiares. Tal tem implicação na adesão à terapêutica e utilização de meios de monitorização. Esta pode ser uma das causas das várias recorrências hospitalares em cetoacidose.
  5. Deve-se ter em conta o peso da medicina tradicional e das crenças populares.
  6. A agravar a situação está a dificuldade de acesso à insulina (preço alto, sobretudo dos análogos) e aos meios de autocontrolo.

Neste contexto é proposto pelos profissionais que:
  1. Seja dada uma formação e informação adequadas aos doentes e profissionais através de sessões educativas, Simpósios e Meios de Comunicação Social. Deve ser reforçada a necessidade de uma boa estruturação do Sistema de Saúde com constituição de equipas multidisciplinares nos diversos níveis de atendimento da pessoa com diabetes tipo 1.
  2. Criar condições objetivas para operacionalização do Programa de Prevenção e Controlo da Diabetes.
  3. Dentro do possível, sensibilizar as entidades governamentais para caminhar no sentido da subvenção da insulina e dos meios de autocontrolo.

Em suma, o manejo da diabetes mellitus tipo 1 em África mormente na região Sub-Sahariana é um grande desafio dadas as grandes limitações e constrangimentos (culturais e económicos) ao acesso aos meios de diagnóstico e de tratamento. Tal contribui para o aumento da morbimortalidade associada à doença e suas complicações. Este quadro é agravado pela prevalência e predisposição às várias infeções. É necessária formação dos profissionais, educação dos doentes e melhoria da organização dos Sistemas de Saúde.

Dr. Anselmo de Oliveira Castela, endocrinologista, Clínica Girassol, Luanda, Angola

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