News Farma (NF) | Qual é o principal objetivo do 2.º Congresso Português do Cancro do Pulmão e 11.º Congresso do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão (GECP)?
Ana Figueiredo (AF) | O principal objetivo é promover a atualização científica e a troca de conhecimentos entre profissionais de saúde, das diversas áreas da Medicina, que atuam na prevenção, diagnóstico, tratamento e seguimento do cancro do pulmão. A realização deste evento visa fomentar discussões sobre a investigação e os mais recentes avanços nestas áreas, incentivando a partilha de experiências clínicas e a colaboração multidisciplinar. O mote do 2.º Congresso Português do Cancro do Pulmão deste ano é precisamente a “Personalização e Multidisciplinaridade”, que representa a abordagem atual do tratamento da doença, em que as várias especialidades se reúnem para discutir caso a caso.
NF | Quais foram os maiores desafios na organização deste congresso?
AF | Um dos maiores desafios na organização de um evento como o 2.º Congresso Português do Cancro do Pulmão é a elaboração de um programa científico atrativo, processo esse que exige sempre um cuidado minucioso na seleção de temas atuais e de relevância para os participantes. A principal preocupação foi garantir que os tópicos fossem inovadores e refletissem as tendências e os avanços mais recentes na nossa área de atuação, evitando a repetição de temas já discutidos em edições anteriores.
NF | Que inovações ou novidades foram introduzidas na organização deste congresso em relação às edições anteriores?
AF | O GECP, desde a sua fundação, tem tentado sempre trabalhar em multidisciplinaridade e, à medida que a evidência científica e os conhecimentos nesta área vão evoluindo, tem tentado alargar as suas “fileiras”, integrando mais profissionais de novas áreas que se vão tornando indispensáveis. Não podemos, por exemplo, falar em prolongamento do tempo de vida, se essa vida não for vivida com qualidade, o que implica um bem-estar físico, mental e emocional, proporcionado por uma gama alargada de profissionais. No sábado, teremos uma mesa-redonda com temas como o exercício físico no cancro do pulmão, a oncosexualidade e compreensão do processo de morrer. Na sexta-feira, temos um dia de sessão paralela de Enfermagem Oncológica, um parceiro indissociável no cuidar do doente. Olhando depois para o bem-estar de quem cuida dos doentes, teremos também na sexta-feira uma palestra sobre um tema cada vez mais atual: “Cuidar de nós para poder cuidar”.
Não posso também deixar de referir que o GECP nos últimos anos deu um salto enorme em termos de imagem, comunicação e visibilidade, que penso que será bem visível em todos os pormenores que foram pensados e delineados para a organização deste congresso.
NF | Que tópicos e tendências emergentes no cancro do pulmão estarão em destaque nas palestras?
AF | Em destaque vão estar palestras sobre os desafios do correto diagnóstico, tanto a nível histológico como molecular, o estadiamento preciso da doença e o uso de novas moléculas, isoladas ou combinadas, no tratamento dos doentes. A crescente integração de novas tecnologias, como a inteligência artificial (IA), também será um tema relevante, com enfoque no seu potencial para melhorar o diagnóstico e a eficácia dos tratamentos. Além disso, haverá também sessões centradas na qualidade de vida dos doentes oncológicos, no apoio ao cuidador e na prevenção do burnout entre os profissionais de saúde. O debate sobre a viabilidade dos rastreios em Portugal será outro ponto central deste congresso, onde os especialistas irão debater os obstáculos, as soluções e os passos necessários para a sua implementação efetiva.
NF | Quais são os principais resultados que esperam ver na prática clínica após este congresso?
AF | A nossa principal expectativa para a prática clínica é que exista uma implementação contínua de melhorias na abordagem do cancro do pulmão, resultantes da troca de conhecimentos e experiências entre as diversas áreas da Medicina. O progresso acontece hoje a uma velocidade impressionante, o que implica uma atualização permanente de todos os interessados nesta patologia. Os congressos permitem não só partilhar, aprender e atualizar, mas também ter uma perceção do que ainda está para vir (em breve!), o que estimula ainda mais o querer aprender e estar atualizado.
NF | Como prevê a evolução do diagnóstico e tratamento do cancro do pulmão nos próximos anos e qual o papel do GECP e deste congresso nessa trajetória?
AF | Nos próximos anos, a evolução do tratamento do cancro do pulmão deverá continuar a ser marcada por avanços promissores, trazendo novas possibilidades para os doentes. Entre os principais avanços que temos vindo a assistir, destacam-se a imunoterapia e as terapêuticas-alvo, que têm transformado o tratamento desta doença. A combinação das várias terapêuticas inovadoras, que têm surgido nos últimos anos, irá permitir revolucionar o futuro do tratamento do cancro do pulmão, transformando-o numa doença crónica que conseguimos controlar. No que diz respeito ao diagnóstico precoce, ainda há um longo caminho a percorrer. Esperamos que os programas de rastreio ao cancro do pulmão sejam implementados, em breve, em Portugal, uma vez que está provado cientificamente que permitem reduzir significativamente a mortalidade. O GECP reúne profissionais com diferentes especializações, que se dedicam ao diagnóstico, à classificação, ao estadiamento, ao tratamento e ao acompanhamento dos doentes com cancro do pulmão. Esta multidisciplinaridade é essencial para proporcionar um acompanhamento mais personalizado, permitindo tratar os doentes de forma mais prolongada e com maior eficácia, traduzindo-se em melhores resultados clínicos e em uma qualidade de vida superior para os doentes. O congresso tem sido um pilar fundamental na produção de conhecimento científico e na disseminação de boas práticas clínicas, contribuindo para a formação contínua dos especialistas e para a implementação de inovações na área do tratamento do cancro do pulmão.